quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Casal gay luso-holandês no turismo rural



O ribatejano Valdemar Garcias e o holandês Wladimir Schrijver não tiveram dúvidas quando visitaram a aldeia de Dornes (Ferreira do Zêzere) pela primeira vez: era ali que queriam abrir a sua casa de turismo de habitação. A beleza natural da península, a tranquilidade das águas do rio Zêzere retidas pela Albufeira de Castelo de Bode e a pacatez da aldeia de Dornes encantaram o casal recém-chegado de Amesterdão, na Holanda. Depois de já terem percorrido outros países, como a Bélgica, o Brasil ou os países escandinavos, em busca do local perfeito para a sua casa de turismo, voltaram-se para Portugal, tendo procurado na Beira Baixa, no Norte Alentejano e noutros locais do Ribatejo. O fascínio de Dornes foi mais forte, tendo despertado em Wladimir uma “ligação espiritual instantânea”. Também Valdemar, originário da região, não conhecia este “pedaço de paraíso, bem no centro de Portugal”.

A casa escolhida pertencia a um habitante da aldeia e foi encontrada à venda na Internet por Valdemar. Foi depois recuperada por Wladimir que tem formação em design de interiores. Com uma decoração clássico-rústica, a Casa WladiVal oferece um ambiente acolhedor e calmo, dispondo de um jardim com uma vista privilegiada para a albufeira. Todo o edifício possui ar condicionado, oferecendo ainda várias comodidades tecnológicas incluindo Internet de banda larga sem fios. Aliás, Valdemar salienta que esta tecnologia é essencial ao negócio porque a maioria das marcações são feitas através de e-mail. Além disso, Valdemar trabalha, a partir de casa e via Internet, como consultor de telecomunicações para uma empresa estrangeira. Foi esta a sua primeira profissão em Portugal, na Marconi, tendo depois rumado à Holanda onde trabalhou para a British Telecom, tendo adquirido formação em sete línguas (alemão, espanhol, francês, galego, holandês, inglês, italiano), o que lhe facilita hoje a vida quando recebe hóspedes estrangeiros, que já representam cerca de 80% do volume de clientes da casa. Os estrangeiros provêem habitualmente de países europeus como a Bélgica, Reino Unido, Holanda, Espanha e Itália. A maioria das vezes são amigos de antigos hóspedes que lhes recomendaram este espaço. A casa recebe também alguns hóspedes frequentes do norte de Portugal, que procuram um atendimento diferente do que é dado pelos hotéis e pelas pousadas. “Nós proporcionamos um ambiente familiar e muitos hóspedes saem a chorar quando partem porque dizem ter aqui vivido experiências inesquecíveis” reforça Valdemar, explicando que inicialmente alguns ficam surpreendidos ao ver dois homossexuais a gerir o espaço, mas que depois percebem que “os gays até são pessoas com mais bom gosto e com mais olho para os detalhes”. “As pessoas até se surpreendem porque nós bebemos cerveja e comemos petiscos como qualquer outros homem”, acrescenta.



O casal assumiu desde o início a sua homossexualidade e diz não ter sentido nenhum tipo de preconceito da parte dos habitantes da vila de Dornes. Os dois conheceram-se na Holanda, há cerca de setes anos e casaram algum tempo depois. Já há muito que sonhavam juntar as suas capacidades profissionais, aliando a experiência de Wladimir como designer de interiores com os dotes poliglotas de Valdemar, num projecto turístico ligado à componente rural.

Com a Casa Wladival a funcionar há cerca de um ano e meio, os dois sócios dizem estar satisfeitos com a receptividade das pessoas e com a hospitalidade de todos os habitantes da vila. “Temos uma relação educada com os mais velhos, mas não nos vêem ainda como vizinhos. Mas isso é normal, mesmo que as circunstâncias da nossa vida fossem outras”, diz Wladimir.

O holandês acha que a vida em Portugal é mais simples, existe mais espaço e menos confusão. No entanto, considera que “os portugueses têm 4 vidas: a vida em família, no trabalho, a vida social e uma vida secreta”. “Na Holanda temos apenas uma vida e um rosto perante toda a sociedade, sem preconceitos ou mentiras”, diz Wladimir, criticando também a mentalidade dos portugueses no que diz respeito ao trabalho. “Em Portugal pode-se ter trinta anos e nunca ter trabalhado. Na Holanda começa-se a trabalhar muito mais cedo”, conta.

De positivo, Wladimir destaca a boa gastronomia portuguesa, a beleza natural e patrimonial do país, assim como as imensas potencialidades do interior do país a nível turístico.


Mais informações em: info@casawladival.com